Durante o início do século XIX toda a Europa estava a ser alvo de guerras entre a França e Inglaterra, ambas com o objectivo de dominar politicamente o Velho Continente. Em 1806 Napoleão Bonaparte, enquanto imperador da França, bloqueia todas as trocas comerciais com Inglaterra deixando Portugal, que na altura era governado pelo príncipe regente D. João, num estado delicado pois Portugal tinha uma longa relação comercial com Inglaterra mas também temia os exércitos de Napoleão. No entanto, Portugal aceita o bloqueio comercial mas continua a comercializar com Inglaterra, até ser descoberto pelo Imperador Francês.

Foi na altura da descoberta que o príncipe regente e a sua corte não tiveram alternativa e num dos melhores golpes dados na história da Europa, fogem de Portugal para uma das suas Colónias, o Brasil, protegidos pela armada Inglesa, em troca da abertura dos portos brasileiros ao seu país.
Assim sendo, a frota constituída pelo príncipe, sua mãe D. Maria I, a princesa Carlota Joaquina e as crianças, incluindo D. Pedro que viria a ser o futuro Imperador do Brasil, e mais cerca de 15 mil pessoas, assim como todos os bem que tinham conseguido carregar (móveis, objectos de arte, jóias, louças, livros, arquivos e todo o tesouro real imperial) desembarcam no porto de Salvador na Bahia a 22 de Janeiro de 1808.

No entanto, o principal destino da Corte Portuguesa seria chegar à Capital da Colónia, o Rio de Janeiro, onde desembarcaram em Março do mesmo ano, instalando-se aí a então Capital de Portugal.
Foi nesta época que o Rio de Janeiro sofreu as mais profundas alterações, e pela primeira vez na história, uma colónia torna-se a sede governamental de um Reino.
Depois da vitória dos povos europeus sob Napoleão, em 1915, ficou decidido que os Reis deveriam voltar a ocupar os seus tronos, no entanto D. João, que não desejava voltar ao país que se encontrava agora empobrecido, nomeia o Brasil como Reino Unido de Portugal e dos Algarves, deixando o mesmo de ser uma colónia e adquirindo a sua autonomia administrativa.

Entretanto, no ano de 1820 dá-se a Revolução Liberal no Porto seguida do absolutismo e iniciando a Monarquia Constitucional, deixando D. João de ser monarca absoluto e passando a seguir a Constituição do Reino, o que exigia o seu regresso a Portugal e exigia a anulação da autonomia administrativa do Brasil, fazendo que em 1821 D. João VI voltasse a Portugal deixando o seu filho D. Pedro como primeiro príncipe regente do Brasil.
A chegada da Corte ao Rio de Janeiro
Ao desembarcar no Rio de Janeiro, em 7 de Março de 1808, dom João e a sua corte encontraram uma cidade pequena, de apenas 60 mil habitantes, completamente despreparada para receber tantos e tão ilustres moradores. Algo entre 10 mil e 15 mil portugueses, acostumados ao conforto da Europa, invadiram o Rio de repente. E o ineditismo da situação ia muito além do caos instaurado na cidade. Pela primeira vez na história, uma família real europeia punha os pés na América. Estava em curso uma transferência de poder sem precedentes: a mudança de toda a corte portuguesa, por tempo indeterminado, de Lisboa para a Baía de Guanabara.

A importância histórica dos acontecimentos não livrou dom João de enfrentar problemas aparentemente menores, mas bem difíceis de contornar. O primeiro e mais prático de todos: simplesmente não havia moradia para toda aquela gente nova no Rio de Janeiro. Por mais que estivessem num cenário deslumbrante, cercadas de mar, montanhas e muito verde, as casinhas daquela época eram humildes na sua maioria. A solução foi desalojar as famílias que ocupavam as melhores residências, para que em seu lugar fossem acomodados os integrantes da corte. Cada imóvel desapropriado tinha as iniciais “P.R.” – de Príncipe Regente – pintadas na porta. Não demorou até que o povo carioca, gaiato desde sempre, encontrasse outro significado para a sigla: “ponha-se na rua”.
O desenvolvimento do Rio de Janeiro
De um dia para o outro, a cidade ganhou uma importância inesperada, transformando-se na capital do império português. Para muitos historiadores, esse foi o marco inicial dos eventos que forjaram as instituições, a cultura e a política brasileiras. Até então, o Rio de Janeiro não passava de 76 pacatos logradouros. Teve de expandir-se rapidamente, num processo de urbanização que avançou na direcção de São Cristóvão e da zona sul, especialmente para os arredores de Flamengo, Botafogo e Laranjeiras. Dom João elegeu uma propriedade em São Cristóvão, a Quinta da Boa Vista, para ser sua residência oficial.

À medida que a cidade crescia, mais problemas iam surgindo. Crises no abastecimento de água, por exemplo, aos poucos foram debeladas com a construção de dezenas de bicas e chafarizes. A explosão demográfica não se restringiu à chegada da corte. Com a abertura dos portos brasileiros, em 1808, um número incalculável de estrangeiros começou a frequentar o Rio. A nova capital, naquele início de século 19, transformou-se a toque de caixa na cidade mais cosmopolita de todo o continente.

Eram tantos ingleses mudando-se para o Rio de Janeiro que lhes foi concedido o direito a um cemitério e uma igreja só para eles. Italianos influenciavam a gastronomia. E até chineses vieram do outro lado do mundo, para introduzir o plantio de folhas de chá no recém-criado Horto Real – mais tarde transformado no Jardim Botânico. Em pouco tempo, bibliotecas, teatros, escolas e hospitais foram erguidos, ruas e estradas foram abertas, igrejas foram reformadas. O Rio de Janeiro crescia freneticamente, para fazer justiça à condição de capital de um império ultramarino.