Foi numa plataforma superior de um picoto elevado, isolado e coberto de carvalhos sobranceiro ao vale do rio Mousse, situado a cerca de 35 km da cidade de Chaves, que se ergueu o “Castelo do Mau Vizinho”, ou o “Castelo dos Mouros”, como é geralmente conhecido.
O dito Castelo do Mau Vizinho é um morro, outeiro ou cabeço que nasce quase perpendicularmente, deste serpentear do mousse, com “gigantes” lâminas de xisto como se fossem facas a desafiar o céu azul que, desde o Mousse, de tão profundo que corre ali entre montanhas, faz que o azul do céu pareça muito mais azul.

Apetece ficar por lá, esquecido, abandonado, sem telemóveis, electricidade, novas tecnologias. Apenas natureza e muita sombra resultante das montanhas que o sol não consegue atravessar.
Uma estranha paisagem engolida pelas montanhas onde o único horizonte alcançável é o céu e as lâminas de xisto do tal Castelo do Mau Vizinho, sem torres, ameias ou muralhas, apenas a natureza que se ergue como um castelo beijado por um pequeno rio que dá pelo nome de Mousse onde os alfaiates insistem em patinar contra a corrente.

A estrutura denominada como castelo constitui-se no topo cortado do penedo de xisto, na cota de 562 metros acima do nível do mar, limitado por encaixes para o assentamento da estrutura de um possível torreão central.
Envolvendo o espaço deste recinto central (c. 184 metros quadrados), ergue-se uma cerca de pedras de xisto argamassadas que se desenvolve em dois troços.
Externamente a esta cerca, existem uma série de cavidades na rocha, para o assentamento de estruturas perecíveis (como a madeira), que constituiriam uma segunda linha defensiva. O conjunto é acedido por um alinhamento de degraus escavados na rocha.
Alguns autores sustentam que se trata de um santuário pré-romano, composto por um altar e por locais de sacrifício. Outros autores argumentam, por outro lado, que o sítio não apresenta o mesmo tipo de estruturas (culturais e defensivas) identificados na região.

Embora tenha sido descoberto por António da Eira e Costa entre os finais da década de sessenta e os inícios dos anos setenta do século XX, foi apenas em 1981 que arrancou a primeira campanha arqueológica neste local, seguida de uma outra realizada passados somente sete anos.
O sistema defensivo deste “castelo” era originalmente composto de uma linha de muralha erguida com blocos de xisto, e que terá sido completado pela própria natureza defensável do sítio, cujos afloramentos possibilitaram a construção de um torreão central, bem como de outras estruturas de carácter perecível, eventualmente relacionadas com a existência de uma segunda linha de defesa.

Durante algum tempo, interpretou-se este sítio arqueológico como um santuário pré-romano, contrariando, desse modo, a inferência que se poderia retirar da própria designação do monumento, ou seja, enquanto Castro.
Dentro deste contexto, alguns investigadores, como J. R. dos Santos Júnior, tentaram interpretar os vestígios estruturais aí registados como fazendo parte integrante desta hipotética realidade antiga, que algumas lendas locais pareciam confirmar.
Contudo, as disposições artificiais assinaladas no local não parecem assemelhar-se às identificadas noutros sítios culturais existentes na zona, como no caso particular de Panóias.
E mesmo que algum do espólio recolhido pareça apontar para uma utilização deste espaço durante a Idade do Ferro, a parte mais significativa dos materiais cerâmicos encontrados indiciará a fruição deste lugar em plena Idade Média.
Fotos: Fernando Ribeiro do blog Chaves
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