O Porto é uma cidade cheia de história, cultura e beleza. Entre os seus monumentos mais famosos, como a Torre dos Clérigos, a Sé Catedral ou a Livraria Lello, há um tesouro escondido que poucos conhecem: a Capela dos Pestanas.
A Capela dos Pestanas, ou Capela do Divino Coração de Jesus, é uma capela privada de estilo neogótico, localizada na Rua do Almada, junto à Praça da República. Foi mandada construir por José Joaquim Guimarães Pestana da Silva, um protetor das artes e publicista, no final do século XIX. O projeto de arquitetura foi da autoria de José de Macedo Araújo Júnior, e as estátuas no exterior, representando São José e São Joaquim, foram esculpidas por António Soares dos Reis.
A Capela dos Pestanas é considerada um dos mais impressionantes exemplares neogóticos do país, pela sua riqueza e originalidade. O seu interior é decorado com vitrais, bronzes, esmaltes e pinturas a imitar tapeçarias, inspiradas na capela de Sainte-Chapelle de Paris. O altar-mor, proveniente da Casa Wilmotte de Lieja, recebeu em 1885 a medalha de ouro na Exposição Universal de Antuérpia.

A capela foi classificada como Imóvel de Interesse Público em 1996, pela Direção-Geral do Património Cultural (DGPC). No entanto, por se tratar de propriedade privada da família Pestana de Vasconcelos, não há muitas possibilidades de visita.
O seu arquiteto foi José de Macedo Araújo Júnior, um dos mais importantes engenheiros do Porto do último quartel do século XIX, tendo-se destacado na condução de obras tão importantes como o Palácio da Bolsa ou parte da Alfândega da cidade.
Soares dos Reis: o escultor das estátuas da Capela dos Pestanas
António Soares dos Reis foi um ilustre escultor portuense, considerado um dos maiores escultores portugueses do século XIX. Nasceu em 1847, em Mafamude, Vila Nova de Gaia, e morreu em 1889, por suicídio. Foi o autor de obras-primas como O Desterrado, S. José, S. Joaquim e O Crucificado.
Iniciou os seus estudos de escultura na Academia Portuense de Belas Artes, onde se destacou pela sua técnica e talento. Em 1867, partiu para Paris como pensionista do Estado, onde frequentou o atelier de François Jouffroy e a École Imperiale et Speciale des Beaux Arts. Em 1870, mudou-se para Roma, onde completou o seu pensionato e criou a sua obra mais famosa, O Desterrado, inspirada em versos de Alexandre Herculano.

Regressou ao Porto em 1874, onde continuou a sua carreira artística e docente. Foi professor na Academia Portuense de Belas Artes e membro da Sociedade de Belas Artes do Porto. Realizou várias obras para monumentos públicos e privados, como o busto do Conde de Ferreira, as estátuas da Capela dos Pestanas e o monumento a D. Pedro IV.
Soares dos Reis foi um escultor de estilo romântico, que soube aliar a perfeição formal clássica com a expressão sentimental e simbólica. As suas obras revelam uma grande sensibilidade e originalidade, bem como um domínio da anatomia e do movimento. Foi um renovador da escultura portuguesa do seu tempo, mas não foi reconhecido nem valorizado pela sociedade da época.
Como visitar a Capela dos Pestanas
Apesar das dificuldades em aceder ao interior da capela, há algumas formas de tentar conhecer este segredo do Porto. Uma delas é participar nas Jornadas Europeias do Património, que acontecem todos os anos em setembro e que incluem visitas guiadas a vários monumentos da cidade, incluindo a Capela dos Pestanas. Outra forma é contactar diretamente a família Pestana de Vasconcelos e solicitar uma visita privada, mediante disponibilidade e condições.
Se não conseguir visitar a capela por dentro, pode sempre admirar a sua fachada e as suas esculturas no exterior. A capela fica situada numa zona central do Porto, perto de outros pontos de interesse como o Mercado do Bolhão, a Avenida dos Aliados ou a Estação de São Bento. Vale a pena dar um passeio pela Rua do Almada e descobrir esta pérola da arquitetura religiosa do Porto.