Barcelos, 1702: A primeira vez que a Virgem Maria apareceu em Portugal. “Era, numa tarde cálida de Agosto de 1702, andava um pequeno pastor, de nome João, a guardar, como de costume, o seu rebanho, no monte de Castro de Balugães, a três léguas ao norte de Barcelos; de súbito, se desencadeou uma trovoada, medonha; o pequeno, entrando-se de medo, sem poder reunir o espavorido rebanho, viu-se compelido a procurar abrigo no desvão duma lapa, no lugar em que o surpreendera a tempestade.
A emergir de um envoltório de luz suave, apareceu-lhe a Senhora, que lhe perguntou a razão do seu espanto; e ele, que nascera mudo, desprendendo-se-lhe a fala, responde-lhe que chora de susto. Anima-o a Virgem, e diz-lhe que vá prevenir o pai (este era pedreiro) que era seu desejo lhe construísse ali uma ermida.

Correu a criança a comunicar as ordens recebidas; mas o pai não lhe deu crédito, nem, ao menos, inquiriu do filho a razão daquela estranha mudança, pois vi-o agora a falar. Volta no dia seguinte ao monte o pastorinho, que desta vez chorava de fome; apareceu-lhe de novo a Senhora a reiterar o pedido, a fim de o alentar e de reduzir a incredulidade daquele pai insensível, adverte que vai mudar em pedaços de pão alvíssimo as migalhas, quase esgotadas, do pão negro do alforge que sobrava o esfomeado zagal; da mesma sorte, deste pão de milagre, o forno vazio da sua casa o pai encontraria repleto a mais não caber. E o duplo milagre deu-se».

A pequena paróquia de Balugães, em Barcelos, foi na primeira metade do século dezoito, centro poderoso de atracção católica para todos os portugueses, particularmente para os fiéis da região de Entre-Douro-e-Minho. Ali acorriam diariamente piedosas romagens de peregrinos, para venerar o sítio onde a Mãe de Deus se dignara aparecer.
A falta de imprensa periódica para reclamo e defesa deste facto sobrenatural, e sobretudo o arrefecimento da fé cristã, ocasionado entre nós, no final daquele século e na primeira metade do seguinte, pela penetração dos intensos erros maçónico liberais, na classe secular e eclesiástica, enuviaram a aparição de Balugães.

Contudo, a fama dos factos sobrenaturais de Balugães deveriam ser algo estrondoso, para que chegassem aos ouvidos do apreciado escritor mariano do século dezoito, Fr. Agostinho de Santa Maria, (1642-1728) o qual, entre muitas outras obras, publicou o» Santuário Mariano», ou a História das imagens milagrosas da Santíssima Virgem, que residia em Lisboa, no seu, convento da Senhora da Boa-Hora, se não no de Évora, em que fora Prior e subissem os ecos da aparição à corte de D. Pedro II, com tal clarividência, que movessem a sua real piedade, perpetuada na coroa de prata que mandou à Senhora.
E tudo isto naquele tempo em que Lisboa ficava distante de Balugães quatro ou cinco dias de viagem, nem havia imprensa periódica para registar e espalhar esta graça divina.

Outros milagres ocorreram na aparição de Balugães, além da cura do Vidente – o maior de todos -, o milagre que resolveu o pai a acreditar no pedido feito pela Senhora ao filho Vidente. E foi que, andando numa obra de pedreiro com o filho, passando este carregado com um cântaro de água, sobre uma alta ponte, caiu dela abaixo, ficando de pé e sem entornar a água. “E o suave aroma que rescendia o penedo que foi peanha da Senhora, e percebido pelo pai do Vidente, quando foi examinar o sítio da aparição, e que ficou narrado por Fr. Agostinho de Santa Maria”.
Deste infantilismo, quiçá provocado por meningite quando criança, apareceu curado depois da Aparição, e tão radicalmente que foi nomeado pelo próprio Arcebispo de Braga, Sacristão dos templos da Senhora, nos quais ajudava às missas, como qualquer normal.
Neste ministério viveu durante oito anos, assistindo como colaborador manual à edificação das duas capelas, sobre a laje em que lhe apareceu a Senhora, e à do templo-memória, durante os três últimos anos da sua vida. Antes da cura milagrosa, chamavam-lhe João Mudo, e depois era tratado por «Fr. João de Nossa Senhora Aparecida», como se deduz da narrativa de Fr. Agostinho de Santa Maria e do assento de óbito. Neste se acrescenta que «Fr. João, ermitão de Nossa Senhora».

Como os devotos que concorriam a este local eram muitos, assim sentiam ser a sua casa pequenina, todos pediam que lhe edificasse uma casa muito grande, e com estes fervorosos desejos todos ajuntavam pedra.
À vista destes fervorosos desejos que todos mostravam, mandou o ilustríssimo Arcebispo Primaz de Braga, D. Rodrigo de Moura Teles, edificar à Senhora um grande e formoso templo, de estilo neoclássico (1707 a 1720), com duas torres, sendo os seus altares de estilo barroco, de uma policromia extraordinária. Aqui, poder-se-á encontrar o mais belo estilo barroco no altar-mor desta igreja.
Durante o ano acorrem milhares de devotos em romagem até este Santuário Mariano em busca de protecção. A 15 de Agosto, realiza-se uma grande peregrinação, que parte da Capela de S. Bento em direcção ao Santuário de Nª Senhora. Nela participam as freguesias dos concelhos limítrofes, pertencentes às Dioceses de Braga e de Viana do Castelo.