Expressões como subir para cima ou certeza absoluta são comuns, mas escondem um problema linguístico frequente: a redundância. Conhecidos como pleonasmos viciosos, estes desvios repetem ideias desnecessariamente e empobrecem a clareza do discurso.
Embora, por vezes, o pleonasmo possa ter valor expressivo — como em obras literárias ou no discurso poético —, no uso quotidiano, é muitas vezes um erro involuntário.
O que é um pleonasmo?
Pleonasmo é a repetição de uma ideia numa mesma frase. Quando intencional, pode ter valor estilístico. Mas, quando surge por hábito ou descuido, torna-se um vício de linguagem — a chamada tautologia.
Exemplo literário: “Vi claramente visto” (Camões)
Exemplo vicioso: “Sobe para cima do banco”
Hoje, focamo-nos apenas nos casos de pleonasmo vicioso que, por não acrescentarem nada ao sentido da frase, devem ser evitados para uma comunicação mais eficaz.
1. Entrar para dentro
O verbo entrar já indica movimento para o interior. Dizer entrar para dentro é redundante.
Correto: Entrou na sala.
2. Sair para fora
Sair implica deslocação para o exterior.
Correto: Saiu da loja.
3. Subir para cima
Subir já sugere movimento ascendente.
Correto: Subiu as escadas.
4. Descer para baixo
Tal como subir, descer é claro no sentido descendente.
Correto: Desceu do carro.
5. Adiar para depois
Adiar é sempre postergar. O advérbio depois é supérfluo.
Correto: Adiaram a reunião.
6. Antecipar para antes
Antecipar é, por definição, trazer para um momento anterior.
Correto: Anteciparam a consulta para as 16h.
7. Certeza absoluta
Se há certeza, ela é total. Dizer absoluta nada acrescenta.
Correto: Tenho a certeza.
8. Conclusão final
Conclusão já marca o fim de algo. A palavra final é desnecessária.
Correto: Na conclusão, defendeu a sua tese.
9. Consenso geral
Consenso pressupõe acordo amplo. Geral repete a ideia.
Correto: Chegaram a consenso.
10. Panorama geral
Panorama implica uma visão global.
Correto: Apresentou o panorama da situação.
Para além da correção linguística, evitar estas repetições torna o discurso mais claro, directo e elegante. Ao prestar atenção a estes pequenos detalhes, comunica-se com maior eficácia e evita-se a ideia de descuido ou desconhecimento da língua.
Falar e escrever bem é uma forma de respeito por quem nos ouve e lê. E começa muitas vezes por evitar repetições desnecessárias.