A história da “Antiga, Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta” cidade do Porto é marcada pela resiliência. Depois de resistir a cercos militares e ser palco de revoluções que marcaram a História de Portugal, o Porto voltou a dar mostras da sua efervescente vitalidade durante a pandemia.
Em contraciclo com o que acontece pela generalidade do país, a cidade que viu nascer o afamado epidemiologista Ricardo Jorge teima em fazer frente às contrariedades e serviu de “maternidade” a novos espaços que vêm ajudar a aquecer corpos e mentes neste momento tão frio e difícil na vida de todos nós.
Gastronomia, música, arquitetura ou fotografia são alguns dos apontamentos de cor que estes lugares vieram trazer à cidade e provar que, mesmo durante a cinzenta pandemia, há muitas coisas para fazer no Porto.
Venha connosco descobrir dez destes espaços.
10 espaços no Porto que foram inaugurados durante a pandemia
World of Wine (WOW)
Em plena pandemia, Baco abandonou o fausto dos seus aposentos no panteão dos deuses para se acomodar na zona ribeirinha de Vila Nova de Gaia. Por certo exageramos quando transferimos a divindade romana para as margens do Douro, mas se há lugar onde a cultura do vinho marca indelevelmente a paisagem é esta.
E foi sustentada por essa cultura que nasceu o novo quarteirão cultural do Porto/Vila Nova de Gaia que, apesar do nome, vai muito além do vinho. Falamos do World of Wine (WOW).
Inaugurado no final de julho passado, o WOW Porto compila a história, a magia e as emoções por detrás do vinho português, do ritual dos copos e da indústria da cortiça oferecendo seis novos museus ao Porto onde se conta a história da cidade e se revela os segredos por detrás de algumas das principais indústrias da região, como os têxteis ou a moda.
Entre caves cheias de história e estórias, este projeto classificado como de Potencial Interesse Nacional (PIN) serve ainda, em cálice de ouro, nove restaurantes, bares e cafés, uma escola de vinho, várias lojas, um espaço para exposições e outro para eventos e, porque um toque doce não pode faltar à degustação de tão exuberante bouquet, há ainda uma fábrica de chocolate a descobrir.
Fonoteca Municipal do Porto
A queda das primeiras folhas no outono passado trouxe ao estúdio Arda Records na freguesia de Campanhã a tão aguardada inauguração da Fonoteca Municipal do Porto.
Numa sala com dois pisos, os visitantes podem deleitar os seus ouvidos com mais de 35 mil vinis (doados pela Câmara Municipal do Porto, Rádio Renascença Porto e Rádio Difusão Portuguesa) que ajudam a traçar a história da música entre 1950 e 1995.
A oferta, contudo, não se fica pelo acervo físico.
No site da Fonoteca encontram-se novidades todas as semanas, com conteúdos produzidos a partir deste espólio, arquivo de discos, podcasts e artigos temáticos como é caso de “O Alentejo e o seu Cante ou Brahms: Sinfonia nº1 op. 68”.
Fundação Marques da Silva
O Porto não é apenas sinónimo de francesinhas ou vinho. A arquitetura também tem um papel central na cidade.
Nomes Siza Vieira, Fernando Távora ou Eduardo Souto Moura são alguns dos embaixadores mundiais deste “amor” do Porto pela arquitetura, um amor que conheceu há bem pouco tempo um novo capítulo com a abertura ao público da Fundação Marques da Silva.
A fundação que carrega o nome do arquiteto Marques da Silva divide-se entre o Palacete Lopes Martins (casa de 1870 que pertenceu à sua família) e a sua Casa-Atelier (1909) e está localizada na zona do Marquês.
No espaço do Palacete, os visitantes são brindados, entre outros, com exercícios escolares, projetos de arquitetura e de cidade, desenhos, esquissos, maquetes, fotografias e filmes que fazem parte do acervo de arquitetos importantes para a cidade e para o país como Fernando Távora, José Carlos Loureiro, Alcino Soutinho ou Manuel Graça Dias.
Já na Casa-Atelier, local onde Marques da Silva arquitetou a Estação de São Bento ou a Casa de Serralves, encontram-se em exposição desenhos inéditos de Siza Vieira.
Os destinos de Siza Vieira e da Fundação Marques da Silva vão voltar a cruzar-se brevemente, uma vez que este arquiteto será responsável pelo projeto para o novo Centro de Documentação de Arquitetura que há-de nascer nos jardins da fundação.
The Cave Photography
Quando a pandemia já pairava sobre a mente de todos os portugueses, a Casa Vincent decidiu abrir o The Cave Photography, um arquivo de fotografia contemporânea que é também uma loja, com livros de autor, provas de exposição e postais assinados por 11 fotógrafos do Porto, que o visitante pode manusear sem restrições.
Com base na Fotografia Contemporânea, o The Cave Photography propõe-se democratizar o acesso a provas fotográficas, alicerçada numa comunidade de artistas que utilizam a fotografia como forma de expressão artística.
Neste espaço, a fotografia poderá ser encontrada em provas de séries limitadas, autenticadas pelos artistas e impressores.
Este esforço em aproximar a fotógrafos e público já se consubstanciou em inúmeras parcerias que viram o The Cave Photography visitar museus, escolas e festivais de cinema em todo o país.
Tia Tia Wine Bar de Tiago Feio
Tiago Feio deixou a capital e o seu Leopold para, em plena pandemia, ir instalar-se na Baixa do Porto. Na mala trazia uma ideia que acabou por levar à prática sob o nome de Tia Tia, um Wine Bar em que os vinhos naturais e a comida leve e sazonal são os ex-libris.
Apesar de pequeno, o espaço é multifacetado e permite que, entre outras coisas, as pessoas passem apenas para beber um copo ou, em contraponto, façam uma refeição mais completa. A aposta vai, como referimos, para a comida criativa e sazonal, com menu para partilhar, e para vinhos naturais com uma seleção que privilegia produtores pequenos.
A seleção de músicas fica a cargo da equipa e dos clientes, a partir de uma coleção de mais de mil vinis.
Farro Padaria
Viramos todos padeiros em 2020, mas nenhum como o madeirense João Figueira da Silva. Depois de passar pela cozinha de vários restaurantes em Lisboa, São Paulo (Brasil) e Copenhaga (Dinamarca), João Silva decidiu mudar de vida e escolheu o Porto para fazê-lo.
Essa mudança consumou-se com a abertura da padaria Farro na Rua de São Bento da Vitória, junto aos Clérigos, que, para já, entrega pão de fermentação lenta em casa: trigo/centeio, bolo do caco (feito com batata-doce), broa de milho e brioche (leva aguardente de cana e mel de cana na cobertura).
Para breve, está a abertura da padaria ao público e o alargamento da oferta com petisco de “alma madeirense”, como o bolo do caco com peixe-espada preto.
Térmita
É num antigo armazém de madeiras contiguo ao café Candelabro que se aninha uma agência de viagens fora do normal – a Térmita, uma nova livraria na cidade do Porto.
Os bilhetes vendidos pela Térmita chamam-se livros (novos e usados) e discos, em especial de editoras pouco representadas e caseiras, como a Amateur, Dois Dias Edições ou a Coração o Ditador.
Para além destes passaportes para outros lugares, a Térmita oferece ainda uma programação cultural multifacetada que abrange as artes plásticas, a música, a literatura e outras formas de expressão.
Torel Palace
Não é surpresa para ninguém que a Hotelaria tem passado tempos difíceis. Contudo, isto não impediu o grupo hoteleiro de partir para a transformação do centenário Palácio campos Navarro no Porto num hotel cinco estrelas e decidir tentar escrever uma história diferente.
Aliás, a literatura teve um papel preponderante na estruturação do novo Torel Palace: os 24 quartos que compõem esta unidade situada na Rua de Entreparedes têm nomes de escritores e poetas portugueses e o seu restaurante gastrobar Blind, com o dedo do chefe Vítor Matos, carrega no nome uma homenagem ao livro Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago.
Kug
O cenário não tem sido particularmente animador para a maioria dos setores e a Restauração não é exceção.
Apesar das dificuldades, há quem se socorra da criatividade para ultrapassar as dificuldades. Foi este o caso do Kug que abriu portas durante a pandemia nos arredores do Palácio de Cristal.
2 mil metros quadrados de jardim pontuado por frondosas árvores centenárias são o aperitivo de um espaço que, desde agosto, oferece uma carta assinada pelo chef Rui Paula marcada por sugestões descontraídas, de partilha, como o hambúrguer de lavagante, as vieiras com ovo de codorniz e puré de trufa ou o linguine nero com vôngole e robalo, bem acompanhadas pelos cocktails criados por Tatiana Cardoso, uma das melhores barmaids do País.
Quando o confinamento se torna palavra de ordem, o Kug dá a volta à questão com takeaway e entregas ao domicílio.
Otília Flowers
São irmãs e decidiram oferecer flores à pandemia. Inês Magalhães e Ana Falé são as responsáveis pela Otília Flowers, espaço localizado em Cedofeita com uma forte ligação à terra e, portanto, ao que é sazonal, tanto de flores frescas como arranjos de secas.
O difícil é não dar com esta loja, a fachada imponente em tons de verde é um portal que se abre para uma autêntica casa de campo com muita luz, uma grande bancada central bem enfeitada de jarros, jarrões e, claro, flores, tudo complementado por peças de decoração em madeira e outras de cerâmica.
Há entregas pelo Porto, mas as encomendas podem chegar a todo o país.
