Todos os países têm momentos caricatos na sua história e Portugal não é excepção. Poucos sabem ao certo o que iria na cabeça de algumas pessoas para tomarem certas decisões que hoje nos parecem totalmente absurdas mas, de qualquer das formas, resultaram em episódios caricatos que raramente são contados nos livros de história. Portugal não é excepção e não faltam histórias que, olhando para trás, torna-se difícil compreender como pode ter acontecido algo semelhante ou em que estariam a pensar os protagonistas dos acontecimentos. Para ler com humor: 10 anedotas verídicas da história de Portugal.
1. A POTÊNCIA DO REI AFONSO VI

O Rei D. Afonso VI era tão parvo que não conseguia arranjar mulher para si, excepto nos prostíbulos lisboetas, pelo que foi o Marquês de Sande (D. Francisco de Melo) a ir buscar mulher, D. Maria Francisca Isabel, na Casa de Sabóia (cujo brasão está no Paço real de Sintra). Chegada a 2/8/1666 a Lisboa, já casada, pede nos Tribunais Eclesiásticos a anulação do casamento, em 22/11/1667, com o fundamento na sua não consumação, por o rei ser impotente.
Formaram-se 2 partidos em Portugal: o da potência e o da impotência! Os partidários da impotência admitiam o rei gostar da caça, mas que depois não era capaz de comê-la. Acrescentavam que a paralisia infantil não lhe colheu, apenas os membros do lado direito.
Os partidários da potência apontavam a frequência dos prostíbulos e a informação da rainha ir dar um filho! A certa altura, para desempatar, os defensores da potência avançaram com um exame médico à virgindade da rainha!
Prevendo o mau resultado, opuseram-se ao exame, dizendo que o véu himenal é o selo de garantia com que o criador especializou a fêmea do homem e que o rompimento desse selo pelos dedos do examinador constituía uma forma grosseira, artificial, ensonsa e indigna de rasgar tal marca de autenticidade (VB-176/7).
O Papa Clemente IX deu a dispensa por motivo de impotência de Afonso VI, apesar do avançado estado de gravidez da rainha!
2. COMENDA DE TORRE-E-ESPADA PARA AMANTES DA MULHER
No Brasil, o nosso rei D. João VI recompensava os amantes da mulher com a comenda de Torre-e-Espada, mas não podendo dizer o porquê da condecoração, escrevia dos “justos e particulares motivos que tenho presentes”
3. OS PORTUGUESES DESCENDENTES DO PAPA

O Papa Inocêncio XIII (1721-1724), Miguel Ãngelo de Conti, estando em Lisboa como núncio, aqui deixou a sua semente sagrada. Carlos de Merveilleux, médico e naturalista, desculpou o núncio apostólico pelo facto de “o calor do clima não permitir que se viva privado de mulher” (VB-180+183)
É curioso notar que não se fala deste papa no livro A Vida Sexual dos Papas de Nigel Cawthorne! Talvez por Portugal estar tão esquecido neste canto da Europa!
4. OS JUÍZES ANALFABETOS!
Só por Alvará de 13 de Janeiro de 1642 se proibiu que os analfabetos fossem juízes! Já muito antes, nas cortes de Leiria/Santarém de 1433, os concelhos pediram sem sucesso que os corregedores fossem homens letrados, discretos e competentes em matéria de direito, bem como nas cortes de Évora de 1481-82. Do mesmo modo, muitos padres eram analfabetos, incluindo muitos papas – o que não deve causar espanto porque não se lia a Bíblia que, ainda por cima, era escrita em Latim.
5. OS VIVAS A DONA CARLOTA

De Janeiro de 1829 a Maio de 1933 esteve à frente da prisão na Torre de S. João da Barra o bronco oficial Teles Jordão. Enquanto davam pontapés nos demónios situados no corpo dos presos, gritavam palavras de ordem, como: “ Viva a Dona Carlota Joaquina” e “ Morte a D. Pedro e à puta que o pariu”! Ora, a puta era a mesma a que davam vivas!
6. O PAI DE DOM MIGUEL
O erário público pagava a um Apontador para apontar as datas do acasalamento real, mas ele tinha pouco trabalho. Isso não impedia D. Carlota Joaquina de ter filhos com regularidade e, ao mesmo tempo, advogar inocência e dizer que era fiel a D. João VI, gerando assim filhos de imaculada Conceição!
No caso de D. Miguel, havia cerca de 2 anos que D. João VI não acasalava com a sua mãe. Mas uma coisa é saber-se que não era pai, outra é dizer quem era o pai, porque D. Carlota Joaquina não era fiel nem ao marido nem aos amantes!
Apesar de incerto, apontaram para o 6º Marquês de Marialva, D. Pedro José Joaquim Vito de Meneses Coutinho, por estar na lista daqueles a quem a rainha dava favores nocturnos e, por vezes, diurnos.
A dar substância a esta especulação está o facto de D. Miguel gostar de tourear (como todas as coisas tradicionais, dado ser avesso a tudo o que era novo), o Marquês ser o último de uma linhagem de toureiros e o seu avô, D. Pedro de Alcântara de Meneses, ter sido autor de um sistema de equitação taurina que cobrou o nome de Marialva!
Outros pais possíveis, na lista de Laura Permon, mulher do embaixador Junot em Portugal, são, segundo uns, um moço da cavalariça da rainha e segundo outros, um médico de Lisboa.
7. A INQUISIÇÃO E OS MORTOS
A Inquisição não limita a sua jurisdição apenas aos vivos e aos mortos nos cárceres, mas estende-a, frequentemente, a pessoas mortas muitos anos antes de terem sido acusadas de qualquer crime de vulto. Neste caso, desenterram-nas, julgam-nas (e quem cala consente) e se são condenadas queimam-lhes os ossos em auto-de-fé, confiscando-lhes os bens para o que despojam, meticulosamente, os seus herdeiros (M. Dellon, Relation de l’Inquisition de Goa, cit. VB-17)
8. PADRE QUEIXA-SE QUE PAROQUIANOS NÃO MORREM!
O padre de Sagres tinha emolumentos funerários, mas os paroquianos não morriam, como ele próprio se queixa, numa carta escrita em 1573!
9. OS MARCOS DA RAINHA D. MARIA I

No início do reinado da Rainha D. Maria I projectaram-se algumas estradas e começaram a ser construídas, mas em estilo insólito! Único no mundo!
Em vez de se começar pelas estradas em si, começou-se pelos marcos! Lindíssimos! Colunas monumentais, talhadas em fino mármore, providas de altaneiros relógios de Sol! Lindíssimos!
Quanto às estradas… o dinheiro foi desviado pela rainha! Os 16 milhões de cruzados foram aplicados no novo Convento da Basílica da Estrela! Os Reis portugueses sempre aplicaram mais o dinheiro nas estradas para o céu do que nas terrestres…
10. OS SINOS DE D. JOÃO III
Em 1529 o Rei D. João III enviou um carregamento de cobre à Dinamarca, para fundição de sinos, contudo, foi roubado por protestantes que andavam às avessas com os dinamarqueses. O rei D. João III ficou furioso e os luteranos, por estranho que pareça, enviaram sinos… de igrejas de Copenhaga!
O rei ficou desconfiado da virtude dos sinos, mas os luteranos disseram que dinheiro e cobre havia pouco, pelo que sinos não havia outros.
Assim sendo, o Rei D. João III concordou em ficar com os sinos dinamarqueses, mas como depósito, e não como proprietário! Assim, quando a Dinamarca se tornar católica, os sinos serão devolvidos!
A imbecilidade devia ter limites. E as mentiras também. Pegando só no caso de D. Miguel/Carllota Joaquina, os defensores desta teoria não conseguem contudo explicar o porquê de D. João VI, se tinha de facto dúvidas quanto à paternidade de D. Miguel, ter reconhecido este último como seu filho. Repudiando D. Miguel, o monarca teria a mais soberana das oportunidades de anular o seu casamento com D.ª Carlota Joaquina. Se não o fez, é lícito afirmar que não tinha quaisquer dúvidas quanto à paternidade de D. Miguel e que essas dúvidas são fruto de meros mexericos sem base sólida e muito explorados por alguma propaganda pró-liberal e por alguns monárquicos da actualidade que pretendem privar os descendentes de D. Miguel da condição de pretendentes ao trono de Portugal. Por outro lado, dado que as dúvidas sobre a paternidade de D. Miguel têm como base fundamental as memórias de um ex-secretário despedido pela rainha, José Presas, e Laura Permon, mulher do General Junot, em cuja escrita sobressai uma profunda antipatia pela Corte Portuguesa e por D. Carlota Joaquina em particular, a sua veracidade torna-se mais duvidosa ainda. Por último, nenhum dos historiadores liberais de referência do período pós-miguelista (Luz Soriano e Alexandre Herculano) coloca em dúvida a paternidade de D. Miguel, mesmo apesar de terem sido seus inimigos confessos e de inclusivamente terem combatido contra ele durante a Guerra Civil. Na obra biográfica mais recente sobre D. Miguel, as investigadoras e docentes universitárias Maria Alexandre Lousada e Maria de Fátima Sá e Melo Ferreira defendem também elas que aquele era filho legítimo de D. João VI.